
Dois pequenos olhinhos observavam atentos e ansiosos, através de uma das janelas do segundo andar de um velho casarão na Baia dos Anjos.
Era mais uma manhã de sábado e Dorinha costumava ficar no quarto que dividia com suas pequenas colegas, num orfanato. Ela não tinha vontade de descer e juntar-se aos outros, sabia que seria mais um final de semana como todos os outros, onde de vez em quando, aparecia alguém para adotar uma das crianças, que ganharia uma casa, um lar e o mais importante, um pai e uma mãe.
Aos nove anos de idade, ela lembra que quando ainda era muito pequena, ela não ligava muito para as idas e vindas daqueles homens e mulheres que visitavam o orfanato todos os sábados, afinal, ela nem conhecia o significado das palavras, pai e mãe.
Contudo, o tempo passou, ela foi à escola, aprendeu a ler e a escrever, e cada vez que via os pais de seus colegas virem buscá-los, mais aumentava o seu desejo de ter uma família.
Para única alegria de seu coração, todos os sábados, um enorme veleiro passava em frente à entrada da baia, seguindo seu caminho num cruzeiro litorâneo semanal, e quando ele surgia, ela observava-o, atentamente, ele era todo branco e suas velas enfunadas ao vento, o faziam parecer ao longe com um cisne branco.
Toda vez que o veleiro passava próximo do orfanto Dorinha se desligava de tudo, de todas as suas dores, era como se aquela linda embarcação, que agora ela já chamava de Cisne Branco, soubesse que ela estava ali, triste e solitária.
Tos os fins de semana, era sempre a mesma coisa, muitos outros amiguinhos partiam e ela sempre ficava, mas de alguma forma, bem lá no fundo de sua alma, ela sabia da existência de um poder maior, que a tudo sabe e tudo vê e todas as noites, ela orava pedindo a Deus que protegesse a todos os seus amiguinhos que foram adotados, para que nunca mais ficassem órfãos.
Certo sábado, ela esperava seu Cisne Branco com a mesma ansiedade de sempre e ele não falhou, ele surgiu por detrás de um dos morros, mas quando chegou ao meio da travessia que fazia em frente à Baia dos Anjos, foi virando lentamente, em direção ao horizonte tão distante e sem fim.
Dorinha, vendo seu único amigo fiel e verdadeiro partir para longe, se entristeceu muito, ela acreditou que ele não era diferente das pessoas que a discriminavam pela sua cor, que ele, com toda sua brancura celestial, também a estava abandonando, indo para o outro lado do mundo, talvez até, para nunca mais voltar.
A pequena menina, foi à sua cama onde mergulhou em prantos, até adormecer exausta, de tanto chorar.
Às três da tarde, o veleiro já estava muito longe da costa.
O dia que tinha iniciado com sol, começou a mudar. Uma grande tempestade estava por vir.
O vento começou a soprar com miuta força e ondas enormes varriam o convés da embarcação, e os tripulantes tentavam se agarrar ao que pudessem para se proteger e se manter a bordo do veleiro.
Capitão Jorge, o comandante da embarcação, um homem de muita fé em Deus, naqueles momentos de angustia, se lembrava de sua mulher que o estava esperando em terra firme. Eles se amavam muito e há um bom tempo a sua esposa tentava engravidar mas não conseguia. O sonho de ambos de serem pais era grande demais, mas já estavam perdendo a esperança.
Ele orava silenciosamente, pedia a Deus que poupasse todos os tripulantes e suplicava que desse a ele mais uma chance, que o deixasse viver mais um pouco, pois seu sonho de ser pai ainda não havia morrido.
Enquanto isto, a noite já havia chegado à Baia dos Anjos e no orfanato, Dorinha, assustada com som da chuva e dos trovões, tentava em vão dormir, e num pesadelo ela viu seu Cisne Branco sendo devorado pelas águas do mar.
Dorinha se levantou e pressentindo que algo de errado estava acontecendo com o veleiro, o Cisne Branco, orou a Deus pedindo para que nenhum mal acontecesse com ele e que pudesse vê-lo novamente.
Em alto mar a tempestade aumentou, e o Capitão Jorge ordenou a todos os tripulantes que abandonassem seus postos e que fossem todos para as suas cabines, pois não havia mais nada a ser feito a não ser, aguardar o juízo final. E todos os tripulantes, cansados de tanto lutar, foram pouco a pouco, caindo exaltos.
Quando amanheceu milagrosamente, a tempestade foi embora e, o grande veleiro, mesmo tendo sido jogado dentro de um liquidificador da natureza, flutuava sobre águas calmas e sob um céu, de intenso azul. Todos foram salvos.
Cada um percebia que havia acontecido um milagre, ninguém se continha e caia de joelhos agradecendo a Deus pela benção concedida e o Capitão também se ajoelhou e com a mão no coração, fez uma promessa a Deus, que não iria mais obrigar sua esposa a tratamentos e mais tratamentos para poder engravidar.
Dorinha não sabia, nem mesmo o Capitão Jorge, mas tudo já estava traçado por Deus e a ponte entre eles, era o grande veleiro, o Cisne Branco que ela tanto amava.
O Capitão Jorge providenciou para que o Cisne Branco fosse restaurado e alguns meses depois, numa manhã de sábado, quando Dorinha já havia perdido as esperanças de rever seu amigo, ele surgiu por detrás dos montes. Dorinha ficou muito feliz em rever o grande veleiro.
Dorinha encantada saiu da janela, correu pelas escadas abaixo, abriu a porta da frente e lá ela ficou, em pé, na porta do Orfanato admirando o Cisne Branco.
Ela não prestou atenção, mas ao lado do veleiro estava uma jovem senhora, de olhar triste, era a esposa do Capitão, que ao chegar mais perto do orfanato e ao ver a menina, seu semblante mudou por completo e do olhar triste e aparência sofrida, seu rosto se iluminou com um sorriso, capaz de derreter com sua luz, o mais frio coração.
Ao ver Dorinha em pé na porta do orfanato, de braços abertos, como se a estivesse esperando, sentiu que aquela era a menina certa que ela queria adotar, que Deus havia lhe enviado a filha que eles tanto queriam e não pode se conter... correu ao encontro de Dorinha. E Dorinha, de longe, ouviu sua voz gritando bem alto...
Filha, mamãe chegou!
Eu vim te buscar, meu anjo!
Dorinha, sem saber porque, não pensou, agiu como se fosse impulsionada por uma força que ela nem sabia que existia dentro dela, pulou os dois degraus da porta do orfanato, correu em sua direção e sua voz era ouvida por todos que estavam por perto, com grande emoção... disse:
Mamãe!
Você veio me buscar!
Eu te esperei por tanto tempo!
Eu amo você!
Enquanto as duas se abraçavam e choravam, o Capitão Jorge ficou parado onde estava, ficou muito emocionado vendo aquela linda cena, entre mãe e filha, pois Deus havia respondido às suas orações e havia usado como seu instrumento, o Cisne Branco, o veleiro.
A Baia dos Anjos nunca mais será a mesma, pois naquela janela não há mais criança triste por não ter sido escolhida, pois a nova mãe de Dorinha criou um movimento de conscientização de pessoas interessadas em adoção.
Se você tem chorado e sofrido por causa dos problemas da vida. Faça como fez Dorinha, abra seu coração para Deus, e no momento certo, a solução virá.
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